O Mestre Edgard do Agogô em seu espaço de criação.
Na manhã do dia 4 de maio estive trocando umas ideias, falando de uma boa parte da historia do samba e da zona norte do Rio com Edgard do Agogô. Diante de uma conversa bem descontraída com um camarada simples que passou sua juventude em Irajá - terra de muitos outros sambista, além de ser o local onde eu iniciei meus estudos com instrumentos e comecei a tocar meu violão e banjo nas rodas de samba da quadra do Bohêmios de Irajá (bloco esse que Edgard também frequentou durante sua juventude).
Nascido em 1943, no Bairro de Colégio, Edgard
Telles Filho, um dos fundadores do G.R.E.S Tradição, é, ao meu ver, uma figura
que preserva em si tamanha importância no samba que por vezes parece não saber
bem a magnitude disso diante de tanta humildade demostrada.
Edgard relata que
“(...)eu não sou criador do agogô. O agogô de 2 bocas é um instrumento afro. Eu
só fiz aumentar a quantidade de sons, criei o agogô de 4 bocas, mas é a mesma
coisa na hora de tocar”.
Ele conta que chegou
no G.R.E.S. Império Serrano e tocava surdo de corte com 16, 17 anos. Porém,
ficava fascinado com o som agudo do agogô. Assim, como ele mesmo diz que “as
coisas boas acontecem naturalmente” o agogô de 4 bocas surgia através de suas
mãos. Tal que pouco tempo depois mudaria
o rumo das baterias de escolas de samba do país. Numa cronologia do samba, em
1963 se ouviam os primeiros toques do agogô de quatro bocas na Império Serrano. Em 1972 Edgard leva uma ala de agogô para a Portela e em outubro de 1984
participa da fundação do G.R.E.S. Tradição.
Naquela época íamos caminhando por esses bairros, Irajá, Vaz Lobo, Madureira, para escolas de samba e blocos
da região brincar o carnaval, não tinha nem luz nas transversais da rua
principal, não tinha transporte, com um surdo e um agogô você brincava a noite
toda.- Lembra ele.
“Cada um desse que eu faço, eu estou fazendo como se fosse
pra mim.” Enfatiza Edgard quanto o assunto é à busca por melhorar cada vez mais seus instrumentos, seu trabalho de artesão. Pois, ele afirma que a afinação, está na cabeça dele. Com martelinho e bigorna vai
moldando até chegar na afinação pretendida, nas distâncias entre as quatro
notas do instrumento.
Edgard tocando um dos desenhos do agogô.
Já em relação a
criação dos desenhos (como alguns arranjos do instrumento são chamados e tocados), ele
comenta que são misturas de coisas, músicas que se ouviam nos programas de
rádio da época e que ele adaptou para o instrumento trechos de umas e outras
para compor arranjos que são tocados até hoje na “Sinfônica do Samba” – como é
conhecida a bateria do Império Serrano.
Pra galera que curte o agogô de quatro bocas eu penso ser bom
trocar uma ideia com o idealizador do instrumento e de seus toques, Edgard do Agogô. Eu não consigo mesmo dizer se
tenho um instrumento favorito. Mas, acho que já deixei transparecer aí uma
grande admiração pelo criador e sua criatura.
Carlos Carvalho – Música & Letramento