domingo, 15 de maio de 2016

Bate-papo com Edgard do Agogô


O Mestre Edgard do Agogô em seu espaço de criação.

Na manhã do dia 4 de maio estive trocando umas ideias,  falando de uma boa parte da historia do samba e da zona norte do Rio  com  Edgard do Agogô.       Diante de uma conversa  bem  descontraída com  um  camarada simples  que passou sua juventude em Irajá -  terra de  muitos outros sambista,  além de  ser o  local onde  eu    iniciei  meus estudos com instrumentos e comecei a tocar meu violão e banjo nas rodas de samba da quadra do Bohêmios de Irajá (bloco esse que Edgard também frequentou durante sua juventude).

Nascido em 1943, no Bairro de Colégio, Edgard Telles Filho, um dos fundadores do G.R.E.S Tradição, é, ao meu ver, uma figura que preserva em si tamanha importância no samba que por vezes parece não saber bem a magnitude disso diante de tanta humildade demostrada.

 Edgard relata que “(...)eu não sou criador do agogô. O agogô de 2 bocas é um instrumento afro. Eu só fiz aumentar a quantidade de sons, criei o agogô de 4 bocas, mas é a mesma coisa na hora de tocar”.

  Ele conta que chegou no G.R.E.S. Império Serrano e tocava surdo de corte com 16, 17 anos. Porém, ficava fascinado com o som agudo do agogô. Assim, como ele mesmo diz que “as coisas boas acontecem naturalmente” o agogô de 4 bocas surgia através de suas mãos.  Tal que pouco tempo depois mudaria o rumo das baterias de escolas de samba do país. Numa cronologia do samba, em 1963 se ouviam os primeiros toques do agogô de quatro bocas na Império Serrano. Em 1972 Edgard leva uma ala de agogô para a Portela e em outubro de 1984 participa da fundação do G.R.E.S. Tradição.

Naquela época íamos caminhando por esses bairros, Irajá, Vaz Lobo, Madureira, para escolas de samba e blocos da região brincar o carnaval, não tinha nem luz nas transversais da rua principal, não tinha transporte, com um surdo e um agogô você brincava a noite toda.- Lembra ele.

A bigorna onde o instrumento é afinado.

“Cada um desse que eu faço, eu estou fazendo como se fosse pra mim.” Enfatiza Edgard quanto o assunto é à busca por melhorar cada vez mais seus instrumentos, seu trabalho de artesão. Pois, ele afirma que a afinação, está na cabeça dele. Com martelinho e bigorna vai moldando até chegar na afinação pretendida, nas distâncias entre as quatro notas do instrumento.

Edgard tocando um dos desenhos do agogô.

 Já em relação a criação dos desenhos (como alguns arranjos do instrumento são chamados e tocados), ele comenta que são misturas de coisas, músicas que se ouviam nos programas de rádio da época e que ele adaptou para o instrumento trechos de umas e outras para compor arranjos que são tocados até hoje na “Sinfônica do Samba” – como é conhecida a bateria do Império Serrano.

Pra galera que curte o agogô de quatro bocas eu penso ser bom trocar uma ideia com o idealizador do instrumento e de seus toques, Edgard do Agogô. Eu não consigo mesmo dizer se tenho um instrumento favorito. Mas, acho que já deixei transparecer aí uma grande admiração pelo criador e sua criatura.


Carlos Carvalho – Música & Letramento



2 comentários:

  1. Olá...tenho interesse em adquirir um dos instrumentos feitos pelo Edgar...vc tem o contato dele, como posso fazer, etc. Obrigado

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    1. Olá ! Você frequenta os ensaios de bateria do Império Serrano? Provalvelmente encontrará o Mestre Edgar por lá. Procurei na listagem aqui e não achei o telefone dele.

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