segunda-feira, 30 de setembro de 2019

EUGENIA E MONTEIRO LOBATO. A literatura como instrumento do racismo no Brasil.


Sabe o Lobato? Maior zé vacilo! Racista de mão cheia! Acha que é caô?

Ah! Pode crer! Posso ser só mais um querendo aparecer. Blz! Mas, então desenrola aí com o que o próprio Lobato Escrevia. E se depois disso vier com papo de “homem do seu tempo”, tudo bem também. Mas, assuma seu lado racista.  Assuma que quem é fã de carteirinha e defensor de  Lobato (com o papo de “o homem do seu tempo – argumento vazio, pra não dizer vergonhoso) é de um posicionamento sinistro mano.

Ah! Tem quem diga: Mas, não to defendendo Lobato, to defendendo a obra dele ...(blá, blá, blá)
Só não dá pra manter todos esses argumentos e dizer no final desse texto que não é racista e não é eugenista (ideia que Lobato defendia muito bem). Até aqui, você que me lê na intenção de defender o “grande escritor brasileiro” pode até  não saber bem o que está fazendo (eu disse até aqui). Já o autor endeusado pela educação nacional não perdeu tempo. Atividade aí no papo do Sodré:

Monteiro Lobato – escritor infantojuvenil (logo, um educador heterodoxo) de maior sucesso em sua época e depois, para quem era difícil “ser gente no concerto dos povos” com negros africanos criando aqui “problemas terríveis” – dizia em carta ao amigo Godofredo Rangel que “a escrita é um processo indireto de fazer eugenia e, no Brasil, os processos indiretos “work” muito mais eficientemente”.
Lobato era um militante do movimento eugenista. “Processo indireto” é, para ele, o racismo sem doutrina gritada, da cordialidade patronal ao paternalista ( tanto em que seus textos ficcionais se pode encontrar um ambíguo afeto para com os negros) e presente de modo oblíquo nos discursos, que transitaram de fins do século XIX até o terceiro milênio. Esses discursos, que atingem a consciência infantil com toda a carga emocional dos estereótipos, recalcam a importante história da participação de negros e mulatos nas técnicas, artes e letras de elevado alcance simbólico na sociedade brasileira. (SODRÉ. 2012: 134)
Monteiro Lobato, além de ter sido militante do movimento eugenista foi admirador e parceirão do pai da eugenia no Brasil. Tá ná dúvida?
Vê o link:



 Gente, prometo que não vou ficar aqui fazendo texto tendencioso. Mas, a questão que me preocupa e que deveria preocupar toda sociedade brasileira também é que tem gente que defende os atos de Lobato como "a literatura daquele tempo", "um homem de seu tempo", entre vários outros caô. Volto a dizer, antes de ler aqui, dá pra defender fingindo não saber, mas após essas informações deve ficar um pouco mais difícil não exalar racismo ao defender o "nobre" autor.  Vejamos o que o "nobre" homem de qual estamos falando escreveu sobre Machado de Assis:


 A carta está na matéria do link seguinte: 




 Há pessoas que defendem que o autor foi muito importante para o país. Logo, para essas pessoas a  "simpatia" do autor  com a eugenia, branqueamento e seu racismo nas obras não apagam tudo que ele fez para o Brasil. Como podemos conferir na reportagem do próximo link: 




Mas, na moral : “Racismo é racismo, ponto. Temos que combatê-lo”(RAMOS, 2017:73). E, é opondo-se a ele e toda estrutura nacionalmente racializada  que tamô aí! Pra além disso, é estranho ver pessoas defendendo o que o próprio Lobato nunca quis esconder. Esquisto isso! Mas, vamos observar agora trechos de algumas obras :



Eu poderia ter parado aqui na "negra de estimação". Dá pra dizer que isso é sem querer? O que chamamos de estimação na nossa casa? Ou pensemos ainda, dá pra dizer que é só birra de uma boneca sem educação e desbocada falando? Mas, adiante:


"Sinhá" era como uma escravizada deveria se referir a uma branca, "dona" da escravizada. Se a personagem Tia Anastácia não era escrava de D. Benta qual motivo faz com que o autor use a palavra "sinhá" no texto como uma fala da Tia Anastácia? Algo normal da época? 


Deve ter gente pensando que to implicando com um clássico, tipo "quem é esse aí zoando Lobato"?
Mas, continua vendo: 


Sobre esse trecho? Pensa aí! Porque na próxima imagem veremos só mais uma brincadeira da boneca de pano. E foram esses textos que ajudaram e ajudam a formar o imaginário infantil e juvenil através da literatura. 


Bom quem quiser defender, que defenda ! E só pra lembrar que essa discussão não é nova (já dava pra ter parado de passar vergonha  e exalar racismo pelos poros antes). Olha o que se discutia em 2011:


Pois, quem trabalha ou é da família e/ou entende Lobato como clássico da literatura vai continuar defendendo mesmo. Destaco aqui um posicionamento importante para crianças afro-brasileiras.Uma vez que não há professorxs preparadxs para fazer a abordagem de forma crítica. "Obras" como as citadas aqui não devem ser apresentadas. 

Ah! Pra fechar, um exemplo.  Um professor de uma das escolas as quais trabalho colocou uma das obras citadas aqui para serem trabalhadas. O trabalho de conscientização não foi feito por ele. Tive a oportunidade de ler trechos da obra aos estudantes, a turma já havia lido o livro. E somente uma aluna da turma relatou ter sentido que algo não estava bem nos trechos racistas. A aluna é negra. Expor nossas crianças e jovens a esse tipo de material sem conversa sobre e querer assimir o que Lobato sempre assumiu. Pois dizia ele que:  “a escrita é um processo indireto de fazer eugenia e, no Brasil, os processos indiretos “work” muito mais eficientemente”.


ALGUMAS REFERÊNCIAS: 

  RAMOS, Lázaro. Na minha pele. Rio de Janeiro. Editora Objetiva. 2017.

SODRÉ, Muniz. Reinventando a educação: diversidade, descolonização e redes. Petrópolis, RJ.
 Vozes. 2012.
LOBATO, Monteiro. O Minotauro. São Paulo. Globo 2010. 






Carlos Carvalho