Há
vida sem música? Como começou toda essa organização do som em tradução de
sentimentos? O que é música afinal de contas?
Pretendemos
aqui um rápido desenrolado com algumas referências para pensar a música e a relação
dela com a vida. Podemos começar por você. Sim você que agora me lê! Pense aí
pra responder: O que é música pra você? Anote num papel se preferir. E ao
terminar de ler esse texto pode ver o que escreveu e/ou redefinir.
Bom,
pra começar, Roberto Bueno (2011), no seu livro Cavaquinho e Banjo (método)
define nosso tema afirmando que ela “é a arte de manifestar os diversos afetos
de nossa alma mediante o som”. Já no livro Palavra Cantada “A música é uma
linguagem que utiliza sons e silêncios para expressar e comunicar”(LEVY, 2010:
16). E para mais uma referência, Teca Alencar, professora da USP em seu
trabalho intitulado Música na Ed. Infantil(2003) amplia. No plural, músicas “são
expressões sonoras que refletem a consciência, o modo de perceber, pensar e
sentir de indivíduos, comunidades, culturas, regiões, em seu processo
sócio-histórico”(BRITO, 2003: 28). Mas aí, no papo reto, a ultima visão está
ampla, relacionando música não só a palavra som, mas também ao que as ondas
sonoras podem representar, se ligô?! Mas, tipo, quando Bueno fala da
manifestação de afeto da alma, ele fala pouco, mas chega junto também. Mais
direto e “menos afetuoso”(Rs) foi Levi(2010). Só que falou da música como
comunicação e trouxe também a palavra silêncio, uma das paradas que não podem faltar
pra organização musical.
Avançando
no desenrolo, depois das definições que já rolaram, é possível dizer que a
música é combinação de som e silêncio que representa sentimentos? Sei lá!
Dependendo que tem está lendo. Vai vendo! Rs
Tipo:
para um escritor a música é uma parada, para um professor já pode ser outra.
Música pode ser matemática na escrita, razão no registro e emoção na execução? Para um
compositor é outra visão. Isso dependendo de como quem compõe lê o mundo, tá
ligado?!
Mas,
vamô aí abraçar o papo do professor Muniz Sodré pra ver qual é. Trazer agora um
papo mais direcionado para onde nasceram os ritmos do mundo. Tá ligado que
vamos falar do continente africano, afinal de contas vem de lá os primeiros
seres humanos. A origem da humanidade. E, se o surgir da música pode estar na observação da combinação de sons e silêncios
da natureza pelos primeiros seres humanos...
Os
inícios de desenrolados que Sodré vai fazer a gente pensar é na diferença da
relação. Tipo:
No ocidente, com o
reforçamento (capitalista) da consciência individualizada, a música, enquanto
prática produtora de sentido, tem afirmado a sua autonomia com relação a outros
sistemas semióticos da vida social, convertendo-se na arte da individualidade
solitária. Na cultura tradicional africana, ao contrário, a música não é
considerada uma função autônoma, mas uma forma ao lado de outras – danças,
mitos, lendas, objetos – encarregadas da acionar o processo de interação entre
os homens e entre o mundo visível (o aiê, em nagô) e o invisível (o orum).
(SODRÉ, 1998: 21)
O
professor tá orientando uns desorientados aí no sentido de dizer que a música
não é sozinha, assim como sozinho ninguém faz nada(mesmo com a sociedade tal
qual se apresentando de modo contrário). A rapaziadinha, a tropa, já se ligou.
Tanto que a prática no rap, no samba, no jongo, no funk e em vários outros
gêneros musicais negros pelo mundo começam com uma galera fazendo,
movimentando(movimento funk, movimento hip-hop). Tem vários exemplos. Mas, quer
ver um bolado?! A molecada do passinho do funk no RJ! É roda, é foda! É mete
dança como se diz na Bahia! E, vai além. Porque os DJs fazem o som pensado no movimento do corpo
assim como dançarinas/os criam movimentos
para determinados sons. Aí tu lembra das práticas musicais atuais fora do
contexto da cultura negra, por exemplo. Aquelas caozadas né?! Rs Repara aí bem
pra ver se não é fundamento o papo. E, só pra confirmação,
Na
cultura negra, entretanto, a interdependência da música com a dança afeta as
estruturas formais de uma e da outra, de tal maneira que a forma musical pode
ser elaborada em função de determinados movimentos de dança, assim como a dança
pode ser concebida como uma dimensão visual da forma musical.(SODRÉ, 1998:22)
Papo
dado né? Porém, se ainda não se ligou tem mais: Tipo, “segundamente”(Rsrs), ou
não necessariamente nessa mesma ordem, o som
cujo, o tempo se
ordena no ritmo, é elemento fundamental, nas culturas africanas. Isto se
evidencia, por exemplo, no sistema gêge-nagô ou ioruba, em que o som é condutor
do axé, ou seja, o poder ou força de realização, que possibilita o dinamismo da
existência.(SODRÉ, 1998: 20)
Eita!!!
Aulas agora!!! Já da pra ficar mec, suave! Pois, se em solos do continente Mãe
e em diásporas o som, organizado no ritmo é axé, música é vida!
Aos
nossos/as ancestrais todas as lutas que nos fizeram chegar até aqui; aos/as mais velhas/os; Toda rapaziada, tropa, massa,
sangue bom, relíquia que compõe o funk RJ; Galera do samba e do pagode, do
jongo da pista e a molecadinha meu máximo respeito! Vocês são a grande
referência do processo! TMJ !
Até aqui é isso! Vamos desenrolando!
Mais Referências:
1.
SODRÉ, Muniz. Claros
e escuros: identidade, povo, mídia e cotas no Brasil. 3ed. Petrópolis, RJ.
Vozes. 2015.
2.
SODRÉ, Muniz. Pensar
nagô. Petrópolis, RJ. Vozes. 2017.
3.
SODRÉ, Muniz. Samba,
o dono do corpo. 2ed. Rio de Janeiro. Mauad. 1998.
4.
LEVY, Gabriel. O
livro de brincadeiras musicais da Palavra Cantada, volume 3. São Paulo.
Editora Melhoramentos. 2010.
5.
BUENO, Roberto. Cavaquinho & banjo.
Jundiaí, SP. Keydbord Editora Musical. 2011.
6.
BRITO, Teca Alencar de. Música
na educação infantil. São Paulo. Petrópolis. 2003.