segunda-feira, 29 de março de 2021

#escoladefunk - Abraça o papo aí!

 #escoladefunk - Abraça o papo aí! 


Aí, se liga só! Se eu falasse pra vocês que tem um gênero musical no Rio de Janeiro, criado, gerado nos morros e favelas do subúrbio carioca, pelos negros, descendentes de Reis e Rainhas do continente africano que foram escravizados aqui?!


Se eu falasse ainda que o ritmo é  com batidas fortes, vozes Blacks afinadas, melodias encantadoras, letras inspiradas nas realidades dos lugares cantando dores, amores e o cotidiano de suas compositoras e seus compositores?!

De quê ritmo eu tô falando?

Vou dar mais um papo!  Abraca AÍ! No começo ele era mais feito por preto, pobre da favela que cantarolava ao passar por beco e viela. Sofreu preconceito, seus artistas considerados suspeitos, muitos  foram surrados, assassinados, detidos, presos...


https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51580785



E branco entrou na cena. Aí o ritmo deixa de ser problema pra virar produto nacional, entra na novela, mas, sai da reportagem policial?  Nada mal?! Sei não! Atento ao plano, não me engano!

E vc já se ligo do que estou falando? 

Poderia ser do Lundu, ritmo negro, tocado com tambor, palma de mão,  cantos. Esse,  foi proibido por um tempo mas quando os colonizadores começaram a achar normal, tal gênero musical ganhou o nobre salão  colonial. Legal?! 

O  lundu foi uma das primeiras danças afro-brasileiras a despertar o interesse dos viajantes europeus. Primeiramente, ele foi considerado imoral por causa de seus movimentos, da umbigada: Homem e mulher entrelaçavam os quadris e se tocavam com o umbigo. Mais tarde, o lundu foi atenuado e difamada umbigada foi substituída por um contato apenas insinuado, inspirado no fandango: os dançarinos não entrelaçavam mais os quadris, mas giravam com os braços levantados um de frente para o outro. Assim o lundu passou a ser aceito também pela classe média branca e, aos poucos, foi conquistando espaço nos salões. (NEGWER, 2009:  31).


Mas, blz! Se a gente pensasse  que tal movimento ganhou evidência nos anos 1910, 1920, numa crescente ultrapassando 1940, estaríamos falando do samba. Que inclusive tem várias respostas de compositores e compositoras contra o movimento de embranquecimento. Vejamos uma:



E, ainda no desenrolo sobre o samba e a criminalização...  


pela presença de elementos típicos das religiões e forte expressão africana em seus ritmos e danças, o samba foi considerado um gênero “maldito” no Brasil. No início do século XX, qualquer tipo de manifestação de samba era perseguida por repressão policial, motivada no preconceito racial sofrido pelas camadas mais populares, representadas por negros, vadios e pobres.(FERNANDES & SILVA, 2013: 93)


Mas, estamos falando  aqui  de um gênero que é derivado do som chegado em Pindorama nos anos 1960, 1970... a Black music. Isso mermo mer'irmão! Tô falando do funk !!!
Então se liga aê no que falavam do funk no final dos anos 1980, de acordo com o Lima, no Cadernos Cedes-2002:

Sobre o funk suburbano, Vianna defende que o mesmo é uma festa que se basta, que não serve para nada, não faz sentido fora de si mesmo. Não gera identidade étnica ou racial, não serve para formar novas amizades, valoriza a violência como mecanismo desencadeador de euforia e êxtase, não produz um funk brasileiro comercialmente dinâmico, não reatualiza a memória coletiva popular e negra das favelas e subúrbios cariocas, não faz critica social. 


Bora seguir o desenrolo aqui. Esse ritmo chega com uma mistura, um balanço, um batidão eletrizante saindo das caixas  das equipes de som. Chegou pra ficar nas comunidades do subúrbio carioca  e por aqui (Pavuna, para-pedro, Acari...)  Até as letras de outros idiomas perderem espaço para o "pretugues". Mas, ninguém melhor do que MC Marcinho pra contar essa historia:





Funk da Antiga

Pois até hoje o nosso Funk tá por cima
Ai, que saudade que eu tenho do meu Funk da antiga
Se tu não curtiu os DJs do vinil, então perdeu o melhor Funk do Brasil (2x)

Há muito tempo atrás, surgiu um movimento
Que a cada dia que passava, pouco a pouco, ia crescendo
Um ritmo moderno, e muito maneiro
Surgia assim o nosso Funk, no meu Rio de Janeiro
Oi, vários pancadões internacionais
Surgiram os MC's e vários festivais
E o DJ nos pratos, mandando um squah maneiro
E levando ao delírio os funkeiros

Pois até hoje o nosso Funk tá por cima
Ai, que saudade que eu tenho do meu Funk da antiga
Se tu não curtiu os DJ's do vinil, então perdeu o melhor Funk do Brasil (2x)

Mas o tempo passou,
Tanta coisa mudou,
Várias relíquias que existiam, hoje se acabou
Acabou o festival, acabou a matinê
Até o meu vinil, hoje virou CD
Mas o meu Funk continua abalando
E cada dia que passa, vai se modernizando
A massa da antiga e a nova geração
Humildemente, vem cantando esse refrão


E Eu? Sou alfabetizado e letrado pelo funk dos anos 1990 e 2000 principalmente. Continuo vendo a potencialidade no funk. A potência que me fez ser MC, professor de música, músico, pedagogo, escritor, compositor, estudante, pesquisador(rs)...
Por isso, esse ritmo é escola no Rio. Escola de Funk!!! Ele é  A potência que fez vári@s outr@s MCs chegarem num entendimento de conceito de vida, tá ligado?!

E Hoje, é 150bpm o bagulho! E o funk continua sendo o funk, pois quanto menos a gente se separa, menos covardia vão meter na nossa cara! 

Ah! Pra não dizer que to inventando coisa, abraça as fontes aí! 




1.             NEGWER, Manuel. Villa-lobos: o florescimento da música brasileira. São Paulo. Martins Martins Fontes. 2009.

2.             FERNANDES, Otair; SILVA, Edna Inácio Silva e.(org). Frutos da terra: sambas e compositores iguaçuanos. Rio de Janeiro, UFFRJ/Evangraf, 2013.

3.             CADERNOS CEDES. Educação, adolescência e culturas juvenis: diferentes contextos. São Paulo. Cortez. 2002.