domingo, 15 de novembro de 2020

M&L, Xavierzin e Escola de Funk on-line



Na manhã do dia 5 de outubro de 2020, convidado pela equipe de gestão do EDI Ana de Barros, Bairro de Coelho Neto, zona norte do Rio de Janeiro, rolou a ação educativa Música & Letramento Show para profissionais da educação, criançada e toda comunidade escolar. As pessoas puderam acompanhar o encontro ao vivo pela página do facebook da unidade escolar. 

Destacamos que todos os cuidados de proteção para evitar aglomeração diante do contexto da pandemia do covid19 foram devidamente tomados. Pois, a equipe do M&L foi reduzida a somente um profissional e na unidade escolar somente duas pessoas auxiliaram diretamente o projeto para a organização e transmissão da atividade acontecer. Os profissionais da escola estavam o tempo todo de máscaras e o álcool em gel acabou fazendo parte do cenário também. 

A última contação de história do projeto em 2020 tinha acontecido no início de março. Logo depois disso, os trabalhos ficaram mais restritos aos compromissos de aulas on-line por aplicativos e quatro lives para profissionais da educação que aconteceram em junho, junlho, agosto e setembro, além de gravações de programas em áudio e planejamento das ações. 


A atividade começou com o bom dia no ritmo do rap e participação da galera que acompanha ao vivo. Na sequência aconteceram atividades no rimo do samba e pagode, apresentação de instrumentos, confecção de instrumentos e encerrou com atividades do Escola de Funk. 

Foi um formato diferenciado. Porém de ótima participação do público que mesmo na distância trocou uma boa energia para a atividade acontecer da melhor forma possível. Pois, quem já participou de nossas atividades sabe que ela só acontece porque a criançada e comunidade escolar em geral participa. E é isso que faz com que a atividade aconteça. 

#escoladefunk
#livroxavier
#musicaeletramento



 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Escola e comunidade escolar - Pprt Educação 2




Nos dias de hoje pensar escola e comunidade escolar é importante pra caramba para aumentar os jeitos de evitar vacilação na prática docente, na vida de educador/a. Pois, sendo (ou devendo ser) a escola o lugar, o símbolo (semiótica) da educação formal, e  a comunidade escolar uma pequena amostra da sociedade,  estamos na verdade falando de educação e sociedade. Ser educador/educadora e não pensar/estudar/pesquisar/refletir e nem trazer para discentes o mínimo sobre essas ideias pode nos deixar cada vez mais distantes de atitudes educativas comprometidas com uma não excludente, não preconceituosa, decolonial.

Mas, pra continuar esse papo precisamos saber que a

escola é o lugar determinado do sistema social onde se reconstitui o movimento de produção do conhecimento, mas sempre como um efeito das relações de classe. A língua nacional ensinada na escola não escapa ao jogo das diferenças de classes, na forma de conflitos linguísticos (práticas contraditórias da linguagem), disfarçados pela suposta uniformidade do idioma pátrio. (SODRÉ. 2012: 25)

Bora pensar na ideia de escola aqui apresentada? Sodré tá colocando na nossa cara aí a escola como reprodutora das desigualdades sociais. Em outros termos, seria uma escola cheia das vacilações – isso se a gente pensar essa história de que desigualdade social é herança de uma invasão aí que teve por aqui tem uns 500 e poucos anos, mais ou menos. Vocês concordam com o professor Muniz Sodré? Caso sim, é essa escola que vocês “querem estar atuando” (seja como docente, tia/tio da cantina,  merendeiras e merendeiros, auxiliares de limpeza e serviços gerais, porteiro/a, discente, equipe de gestão,  secretariado, responsáveis de educandos)?

Bom, enquanto a gente pensa a definição de escola como reprodutora das desigualdades sociais já vamos avançando no desenrolo pra entender legal a comunidade escolar. Galera, comunidade escolar é noixxxx! Geral! Tipo, todos/as que foram citados/as entre parênteses no parágrafo anterior, se ligô? Vou copiar e colar aqui:

(...)docente, tia/tio da cantina, merendeiras e merendeiros, auxiliares de limpeza e serviços gerais, porteiro/a, discente, equipe de gestão,  secretariado, responsáveis de educandos (texto do final do parágrafo anterior, se ligô? Rs!)

Desenrolado aí o que é escola e comunidade escolar, bora seguir. Mas, não dá pra continuar sem relembrar o que é educação e já que a conversa é sobre escola também é preciso saber o que é ensino formal.

Sobre educação Brandão(2013) vai dizer que a é a forma usada pelo ser humano “para formar guerreiros ou burocratas”. E Paulo Freire  já vê  como um jeito de interferir no mundo que tanto pode manter a ideologia dominante quanto pode ser contra essa ideologia. Mas,  para nós? O que é educação? Pensemos e vamos seguindo. Já para ampliar um pouco mais basta dá uma chegada nesse link :

https://carloscarvalhomel.blogspot.com/2020/01/pprt-educacao-pra-quem.htm

Adiantando aqui, quem acessou o link entendeu que o conceito, a ideia de educação (escolar) exposta por Brandão(2013) significa  a reprodução das aprendizagens sociais. Tipo assim: a educação tá no mundão e quando começa a pensar espaços próprios surge a escola e a pedagogia. E, se tem escola e pedagogia (ciência da educação), tem também ensino formal ou educação formal.

Maneiro, conceituamos escola, educação, pedagogia, ensino formal ...

Mas, na prática o que fazer com essas informações?

Bora lá gente! Vamô junto desenrolar agora o seguinte: Chegou a hora de tomarmos uma decisão. O que fazer com tudo isso na prática depende de que decisão a gente vai tomar. Num papo bem reto e breve, sem grandes “teorizações”, já deu pra se ligar a educação serve para “formar guerreiros ou burocratas” e/ou  para manter ou ir contra uma ideologia dominante ou a favor da mesma. Aí alguém pode meter um “E daí?” Rs!  Pode ! Pode sim! Mas, vamos mentalizar umas coisas! Quem é guerreiro na sociedade de hoje e quem é burocrata? O  que pode ser a ideologia dominante na sociedade de hoje? Pensemos educadorxs!!!

Depois de pensarmos bastante aqui, poderíamos, por exemplo, nos decidir por ter um compromisso com ações educativas comprometidas, não preconceituosa, decolonial...

Nesse pik!  Vou jogar uma lanterninha aqui mas procurem saber. Se liga! Porque

Persiste ainda hoje a utopia civilizatória da Europa. Após cinco séculos de colonização da América, os europeus - diretamente ou por meio das elites nacionais mediadoras,  atualmente secundadas pelas elites dos meios de comunicação – continuam  reproduzindo o discurso de enaltecimento de seus valor universalista como garantia da colonialidade do poder.(SODRÉ 2015: 38)

Depois da afirmação de Paulo Freire sobre educação e dessa explicação de Sodré sobre colonialidade do poder da pra entender, pensar, relacionar, perceber quem faz o currículo do ensino formal e pra que ele é feito?  Aí, é só ler mais um pouquinho(quanto mais melhor) e fundamentar as práticas. Se tiver atento/a, na atividade,  uma vez que a pessoa formada em pedagogia é cientista educacional, vai buscar cada vez mais para minimizar os vacilos e andar de acordo com uma educação que não fortaleça esse modelo de sociedade que estamos “assistindo” agora.  Ah ! Mas para a escola não ser excludente e ser decolonial ela precisa de pessoas que pensem(ou procurem pensar) e tenham ações de acordo. Certo? Certo!

Exemplo simples? Muitos educadores e educadoras e escolas por todos os lugares do mundo continuam dando folhinha, capas de provas e outros “trabalhinhos” quase que 100% para discentes pintarem um desenho pronto. Legal! Mas, já parou pra pensar que o mundo não está pronto? Que a sociedade está em constante mudança? Que pode e deve entregar uma folha branca, vazia? Tem uma galera querendo manter umas tradições e outras querendo caminhar e aprender com o novo (isso é papo de sociologia, sujeitos de identidades) e no meio disso tudo tem a escola. E é aí que a gente, o nosso corpo, a nossa fala, a nossa prática, nosso estudo, nosso embasamento entra. Exemplo vivo disso está aqui:

https://carloscarvalhomel.blogspot.com/2019/09/eugenia-e-monteiro-lobato-literatura.html

Tem gente querendo manter a leitura de um famoso escritor sem repensar as práticas desse escritor. “Ah tu quer cancelar o M...” Não precisa cancelar. Faz a leitura crítica com a molecadinha! Mas, deixar ler  e deixar passar batido não dá! Clica aí no link pra se ligar no papo!

E outra! É dever da nossa profissão, repensar as paradas direcionadas pra educação!  Por isso, vídeos como o do link abaixo são necessários!

https://carloscarvalhomel.blogspot.com/2020/09/xavierzin-em-independencia.html

Datas comemorativas!!! É tenso! Sempre tenso. Quase sempre homenagens, comemorações, muita festa... e reflexão sobre o tema da data?  Dia da independência, dia do índio, dia das mães, dia do... GENTE!!! Vai passando tudo batido sem reflexão nenhuma e com pinturas prontas? Calma! Se nós não começamos a fazer o debate das datas em sala de aula, dá pra começar agora! Sempre é tempo! Se sua próxima aula e depois que você ler esse texto, vai lá! Chama a molecadinha nas conversas! Pergunte, queira ouvir estudantes, saber o que pensam!

Durante muito tempo várias versões e visões muito parecidas de uma mesma história foram e continuam sendo contadas. Vamos aproveitar outras narrativas para repensar o processo? Ou vamos continuar fingindo que outras narrativas não existem? 

A escola, aquela do ensino formal, da educação que criou a pedagogia,  precisa ouvir e orientar, trocar ideias com sua comunidade escolar sobre os tempos atuais para decidir se a identidade do seu projeto Politico Pedagógico vai formar guerreiros ou burocratas? Pois,

A falta de escuta ou de acolhida à inquietação do estudante, assim como a falta de respeito à diversidade de saberes dispostos no horizonte do educando, é um obstáculo ao mesmo tempo técnico e ético ao advento da criatividade no interior do processo educacional. (SODRÉ. 2012: 152)

Então “tropa”, o chamado é para a criatividade docente, para a ética, o respeito. Se não fazemos, que tais praticas comecem agora! Se já fazemos, precisamos continuar!  Uma boa citação do grande escritor Lima Barreto  pra pensar tudo isso é “o Brasil não tem povo, tem público”.  Queremos ter/ser  povo ou público? Essa educação que temos na mão(temos?) é pra quem? E, pra terminar, a escola reflete na comunidade escolar ou a comunidade escolar reflete na escola?  Bora reinventar?!

 

Referências:

 

1.             SODRÉ, Muniz. Reinventando a educação: diversidade, descolonização e redes. Petrópolis, RJ. Vozes. 2012.

 

 #musicaeletramento

 

 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Xavierzin em: INDEPENDÊNCIA ?



Xavierzin dessa vez vai propor pra gente um questionamento importante. Baseado em vários cientistas sociais, historiadores, estudantes,  filósofos e pesquisadores do tema, o menino quer mostrar essa outra visão sobre a independência do país chamado Brasil, a formação da nacionalidade e o que é ou pode ser a identidade de brasileiro.

Se liga aí nas fontes e citações:

Começando pelo site https://teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100135/tde-23012015-092503/pt-br.php   no qual  encontraremos  a dissertação de mestrado de Paulo de Vicentis.  O trabalho intitulado  Pintura histórica no Salão do Centenário da Independência do Brasil traz no resumo a questão de branqueamento e de uma predomínio da cultura europeia. Vejamos: 

O centenário da independência do Brasil, comemorado em 1922, mostrou-se uma oportunidade excepcional para as elites brasileiras exporem projetos de identidade nacional, de predominância europeia, no que diz respeito à cultura, o que inclui considerações racistas, e de manutenção da estrutura social, calcada no capitalismo liberal. O presente trabalho tem por objetivo investigar como tais projetos impactaram as exposições, congressos, e outros eventos comemorativos. A Exposição Internacional e os congressos de História do Brasil e Internacional de Americanistas mostraram um país inserido na economia mundial, buscando os fatos e os personagens fundadores da nacionalidade, interessado em se aproximar dos demais países do continente e que considerava a miscigenação uma aliada para promover o branqueamento da população. O estudo também se volta ao mecenato estatal, cuja intenção de adquirir quatro quadros de assunto histórico, relacionados aos acontecimentos de 1822, estimulou alguns artistas a retomar a produção de tal gênero de pintura, porém algo distanciados dos cânones acadêmicos e incorporando questões e discursos em pauta naquele momento histórico. O juri encarregado selecionou, para aquisição, as obras: Sessão do Conselho de Estado, de Georgina de Albuquerque; Primeiros sons do Hino da Independência, de Augusto Bracet; Tiradentes, o precursor, de Pedro Bruno; Minha terra, de Hélios Seelinger. Os eventos retratados, apesar da presença de personagens históricos, abordaram o direito de voto à mulher; a revisão do período monárquico e da figura de Pedro I; a trajetória do país de 1500 a 1889, sob a perspectiva da miscigenação e do branqueamento; o papel do Estado, enquanto instância de repressão.

 

Quando o menino Xavierzin coloca “empresários” na sua história, mas especificamente refere-se aos empresários ruralistas historicamente  participaram do genocídio dos povos originários consoante afirma a dissertação de mestrado da Universidade de Goiás de Adenevaldo Teles Junior intitulada  O genocídio indígena contemporâneo no Brasil e o discurso da bancada ruralista no Congresso Nacional(TELES JUNIOR. 2018). Vejamos um trecho:

 

Os colonizadores desconsideravam por completo as territorialidades indígenas, traçando e implementando políticas localizadas de demarcação pela ocupação e apossamento da terra e dos recursos naturais tidos como res nullius - coisa de ninguém - fundados no então vigente direito de conquista (DANTAS, 2011, p. 6). O sistema produtivo colonial também foi responsável pelo processo de assimilação cultural que marcou profundamente as populações colonizadas. Apesar da pluralidade de povos, línguas e culturas próprias, na medida em que houve a expansão da exploração territorial, o pensamento eurocêntrico se estendeu de forma hegemônica3 .

 

Dentre as questões de demarcação e genocídio também está exposto aí no mesmo trabalho o racismo e o epistemicídio. Pois, uma outra visão da história nacional consistindo numa organização do pensamento, da reflexão sobre a não romantização da história se faz necessário ao alcance de todos! Há várias defesas sobre esse papo! Vamos ampliando, atualizando aqui de acordo com as leituras!

 

 

Referências:

 

TELES JUNIOR, A. O genocídio indígena contemporâneo no Brasil e o discurso da bancada ruralista no Congresso Nacional. 2018. 157 f. Dissertação (Mestrado em Direito Agrário) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2018.

 

 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Live com @awaeducadoras - M&L






 

No dia 28 de agosto fui convidado pela equipe @awaeducadoras (no Insta) para desenrolar um pouco sobre as práticas do processo/projeto Música & Letramento diante da escola(ambiente formal de educação). Penso ser muito importante essas trocas. Pois, são pessoas comprometidas com a intencionalidade de uma educação sem exclusão, antirracista.

Pra início de conversa  a educadora Camila da equipe Awaeducadoras se apresentou e apresentou a equipe do @awaeducadoras com as profissionais Caroline Sotero, Graziele e pediu que eu também fizesse minha breve apresentação. Escolhi  o texto Sobre o autor publicado no início do livro Música & Letramento – literatura afro-brasileira (Carvalho. 2018).

Na sequência o foco do desenrolo foi minha trajetória na música, meu  início do processo de alfabetização e letramento, diante da literatura, funk, educação. E a junção de música e educação no desenrolo de trabalho(no contexto profissional) no qual se sustenta a leitura e escrita de um inquieto funkeiro, pagodeiro, sambista, educador, escritor.

Seguimos no desenrolo(da live do insta) entre histórias de vida, teorias e práticas educativas sobre música negra, identidade, ancestralidade, circulação pela cidade e o compromisso de educadoras e educadores. Agradecendo muito a troca, a educadora Camila pelo papo e as educadoras Carol e Grazi da equipe @awaeducação e toda galera que chegou junto na live. Não viu? Assite aí ! Clica no link, na imagem ! 



quinta-feira, 20 de agosto de 2020

MÚSICA? no PPRT !

 

Há vida sem música? Como começou toda essa organização do som em tradução de sentimentos? O que é música afinal de contas?

Pretendemos aqui um rápido desenrolado com algumas referências para pensar a música e a relação dela com a vida. Podemos começar por você. Sim você que agora me lê! Pense aí pra responder: O que é música pra você? Anote num papel se preferir. E ao terminar de ler esse texto pode ver o que escreveu e/ou redefinir.

Bom, pra começar, Roberto Bueno (2011), no seu livro Cavaquinho e Banjo (método) define nosso tema afirmando que ela “é a arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante o som”. Já no livro Palavra Cantada “A música é uma linguagem que utiliza sons e silêncios para expressar e comunicar”(LEVY, 2010: 16). E para mais uma referência, Teca Alencar, professora da USP em seu trabalho intitulado Música na Ed. Infantil(2003) amplia. No plural, músicas “são expressões sonoras que refletem a consciência, o modo de perceber, pensar e sentir de indivíduos, comunidades, culturas, regiões, em seu processo sócio-histórico”(BRITO, 2003: 28). Mas aí, no papo reto, a ultima visão está ampla, relacionando música não só a palavra som, mas também ao que as ondas sonoras podem representar, se ligô?! Mas, tipo, quando Bueno fala da manifestação de afeto da alma, ele fala pouco, mas chega junto também. Mais direto e “menos afetuoso”(Rs) foi Levi(2010). Só que falou da música como comunicação e trouxe também a palavra silêncio, uma das paradas que não podem faltar pra organização musical.

 

Avançando no desenrolo, depois das definições que já rolaram, é possível dizer que a música é combinação de som e silêncio que representa sentimentos? Sei lá! Dependendo que tem está lendo. Vai vendo! Rs

Tipo: para um escritor a música é uma parada, para um professor já pode ser outra. Música pode ser matemática na escrita, razão no registro e emoção na execução?   Para um compositor é outra visão. Isso dependendo de como quem compõe lê o mundo, tá ligado?!

Mas, vamô aí abraçar o papo do professor Muniz Sodré pra ver qual é. Trazer agora um papo mais direcionado para onde nasceram os ritmos do mundo. Tá ligado que vamos falar do continente africano, afinal de contas vem de lá os primeiros seres humanos. A origem da humanidade. E, se o surgir da música pode  estar na observação da combinação de sons e silêncios da natureza pelos primeiros seres humanos...

Os inícios de desenrolados que Sodré vai fazer a gente pensar é na diferença da relação. Tipo:

No ocidente, com o reforçamento (capitalista) da consciência individualizada, a música, enquanto prática produtora de sentido, tem afirmado a sua autonomia com relação a outros sistemas semióticos da vida social, convertendo-se na arte da individualidade solitária. Na cultura tradicional africana, ao contrário, a música não é considerada uma função autônoma, mas uma forma ao lado de outras – danças, mitos, lendas, objetos – encarregadas da acionar o processo de interação entre os homens e entre o mundo visível (o aiê, em nagô) e o invisível (o orum). (SODRÉ, 1998: 21)

 

O professor tá orientando uns desorientados aí no sentido de dizer que a música não é sozinha, assim como sozinho ninguém faz nada(mesmo com a sociedade tal qual se apresentando de modo contrário). A rapaziadinha, a tropa, já se ligou. Tanto que a prática no rap, no samba, no jongo, no funk e em vários outros gêneros musicais negros pelo mundo começam com uma galera fazendo, movimentando(movimento funk, movimento hip-hop). Tem vários exemplos. Mas, quer ver um bolado?! A molecada do passinho do funk no RJ! É roda, é foda! É mete dança como se diz na Bahia! E, vai além. Porque os DJs  fazem o som pensado no movimento do corpo assim como dançarinas/os criam  movimentos para determinados sons. Aí tu lembra das práticas musicais atuais fora do contexto da cultura negra, por exemplo. Aquelas caozadas né?! Rs Repara aí bem pra ver se não é fundamento o papo. E, só pra confirmação,

Na cultura negra, entretanto, a interdependência da música com a dança afeta as estruturas formais de uma e da outra, de tal maneira que a forma musical pode ser elaborada em função de determinados movimentos de dança, assim como a dança pode ser concebida como uma dimensão visual da forma musical.(SODRÉ, 1998:22)

Papo dado né? Porém, se ainda não se ligou tem mais: Tipo, “segundamente”(Rsrs), ou não necessariamente nessa mesma ordem, o som

cujo, o tempo se ordena no ritmo, é elemento fundamental, nas culturas africanas. Isto se evidencia, por exemplo, no sistema gêge-nagô ou ioruba, em que o som é condutor do axé, ou seja, o poder ou força de realização, que possibilita o dinamismo da existência.(SODRÉ, 1998: 20)

 

Eita!!! Aulas agora!!! Já da pra ficar mec, suave! Pois, se em solos do continente Mãe e em diásporas o som, organizado no ritmo é axé, música é vida!

Aos nossos/as ancestrais todas as lutas que nos fizeram chegar até aqui; aos/as  mais velhas/os; Toda rapaziada, tropa, massa, sangue bom, relíquia que compõe o funk RJ; Galera do samba e do pagode, do jongo da pista e a molecadinha meu máximo respeito! Vocês são a grande referência do processo! TMJ !

Até aqui é isso! Vamos desenrolando! 


 

Mais Referências:

1.             SODRÉ, Muniz. Claros e escuros: identidade, povo, mídia e cotas no Brasil. 3ed. Petrópolis, RJ. Vozes. 2015.

 

2.             SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis, RJ. Vozes. 2017.

 

3.             SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. 2ed. Rio de Janeiro. Mauad. 1998.

 

4.             LEVY, Gabriel. O livro de brincadeiras musicais da Palavra Cantada, volume 3. São Paulo. Editora Melhoramentos. 2010.

5.             BUENO, Roberto. Cavaquinho & banjo. Jundiaí, SP. Keydbord Editora Musical. 2011.

 

6.             BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo. Petrópolis. 2003.

 

 

sexta-feira, 24 de julho de 2020

YOUTUBE #musicaeletramento


2020 e nós tivemos que nos distanciar um pouco, afastar fisicamente. Por isso,
o processo/projeto Música & Letramento está reorganizando o canal no youtube. Para acessar nossos vídeos basta colocar na busca as # :   #escoladefunk ou #musicaeletramento e vai encontrar várias paradas. Tem aulas de música, ritmo e as aventuras do boneco Xavierzin(vídeo na sequência). 













Tem também desafios musicais e pedagógicos para todas as idades. Na sequência ta aí um dos videos com desafio musical. Clica aí! Vem dançar, cantar, aprender, ensinar, pensar, trocar ideia com a gente!




#escoladefunk
#musicaeletramento 


Use as mesmas # pra seguir no Insta e no facebook. Vamos nos falando. Não esqueça dos cuidados redobrados com a higiene. Nossas atividades no momento estão restritas as redes sociais. Pois, estamos atentos as recomendações dos especialistas em Saúde! 

Vamos nos cuidando! 

domingo, 21 de junho de 2020

FUNK, LITERATURA E (DES)EDUCAÇÃO.

FUNK, LITERATURA E (DES)EDUCAÇÃO.

Desenrolos do Música & Letramento 





Segue o link do desenrolo. No canal @baobazinho da Juliana Correira tem também a segunda parte da troca, do papo. 


                                   https://www.youtube.com/watch?v=eEm_yGhaMhk

 

MÚSICA

Em quase toda palestra, desenrolo, oficina ou bate papo do projeto Música & Letramento com pessoas de idades diferentes, uma das primeiras perguntas que faço para as pessoas é : O que é música pra você? Daí sai muita coisa, quase sempre sinônimos de felicidade, memória, lembranças, alegria, prazer. Por isso, vou começar essa papo  pensando definições de música. Trazendo contribuições de alguns pesquisadores afirmando que “A música é uma linguagem que utiliza sons e silêncios para expressar e comunicar”(LEVY, 2010: 16), por exemplo. Mas, se essa definição fica um pouco distante do que afirma grande parte da galera com quem já troquei ideias ao longo desse processo, então podemos pensar que  música(s)  “são expressões sonoras que refletem a consciência, o modo de perceber, pensar e sentir de indivíduos, comunidades, culturas, regiões, em seu processo sócio-histórico”(BRITO, 2003: 28). Existe ainda a afirmativa de Sodré (2017) que vê a música como “recurso vital de transcendência da dualidade mente/corpo, que converte a filosofia numa estética de revelação do substrato fundamental e afetivo do homem.” (SODRÉ, 2017: 139). Aí, se liga aqui. Na real, o Brito(2003)  está querendo dizer, entre outras coisas, que o autor de uma canção ou um compositor escreve coisas sobre o sentir, viver ou perceber. E o Sodré(2017) já continua falando do afeto, sentimentos, corpo e mente em sintonia, juntos. Essas são definições extremamente aproximadas das respostas recebidas por vezes em uma única palavra por crianças, jovens e adultos nos desenrolos feitos em várias instituições escolares e feiras literárias pelo estado do RJ. Ah! Mas, se é pra falar de música, vamos falar de ritmo também. 

Cês tão ligados que o papo aqui é ritmo? E ritmo é música preta! É uma das paradas  que faz a gente ter consciência de viver junto, fazer junto. Para Sodré(2017)

o ritmo se afirma como uma verdadeira tecnologia de agregação humana. Por meio da dança e da festa, ele reelabora simbolicamente o espaço, na medida em que modifica, ainda que momentaneamente, as hierarquias territoriais, estimulando o poder expressivo do corpo até o ponto de produção de imagens próprias de liberação e autorrealização.(SODRÉ, 2017: 143-144)

O professor/pesquisador(professor/ pesquisador ou professor/estudante deveria ser redundância) tá dando o papo que se tem ritmo, tem festa. E em festa ninguém  está sozinho. Mas, aí o cara vai além. Nesse momento Sodré não está (e nem eu estou) falando de ritmo como se fosse um gênero musical, um tipo de música específica. Estou trazendo o cara pra falar de ritmo negro, de toda essa importância e significado pra daqui pra frente o entendimento do papo chegar. Porque tem um fato aí. A forma com que os tambores africanos agem na música é diferente de como é fazer música de um modo egoísta, eurocêntrico, ocidental(branco). Pois,

No ocidente, com o reforçamento (capitalista) da consciência individualizada, a música, enquanto prática produtora de sentido, tem afirmado a sua autonomia com relação a outros sistemas semióticos da vida social, convertendo-se na arte da individualidade solitária. Na cultura tradicional africana, ao contrário, a música não é considerada uma função autônoma, mas uma forma ao lado de outras – danças, mitos, lendas, objetos – encarregadas da acionar o processo de interação entre os homens e entre o mundo visível (o aiê, em nagô) e o invisível (o orum). (SODRÉ, 1998: 21)

 

Papo de filosofia né ? Essa parada aê! Filosofia, pensar/vivendo é coisa nossa(preta). É do jeito da cultura tradicional africana que o projeto/processo Música e Letramento pensa, vivendo  a atividade musical, desde o compor até a execução. A letra, melodia, instrumentos tocados, gêneros musicais trabalhados, tudo com o objetivo da “interação” entre as pessoas, os objetos, as informações e as outras formas artísticas. E um dos projetos do Música & Letramento é o Escola de Funk. Aquelas coisas mais pra frente, tá ligado?!  Se você colocar a #musicaeletramento ou a #escoladefunk nas redes sociais (insta, face ou youtube) vai pegar a visão do desenrolo. 

 

LETRAMENTO

Nessa parada a ideia não é aprofundar, mergulhar na teoria, mas mostrar  rápido  como nossa prática é um pensar/vivendo. Então, vamos partir da ideia de que o mundo é racializado pra concordar com a socióloga Ana Lúcia Silva Souza quando ela explana que

Letramento é aqui entendido como conjunto das práticas e dos usos sociais que envolvem tanto a leitura como a oralidade realizados  pelos sujeitos, em distintos contextos socioculturais. Neste caso, ser letrado requer, além de possuir conhecimentos básicos em relação a língua e ao seu funcionamento, ser capaz de articular essas informações atribuindo-lhe valores. Tal domínio serviria tanto para detectar e enfrentar solicitações e situações, de maneira consciente e critica, como para intervir e propor modificações no meio em que se vive.(CAVALLEIRO, 2001: 181).

 

Vamos dizer aí que letramento é para além de ler, ver e escutar, pensar no que lê, vê e ouve, ter capacidade de organizar essas informações nesse mundo, para além de conhecer símbolos e códigos de escrita.  Dá ainda pra gente voltar a pensar/viver sobre o que é a música nesse processo, lembra? Quando o desenrolo chega na questão da música dizendo:  o processo de compor e de tocar as músicas tem o objetivo  de provocar determinadas reações, pensamentos, reflexões ao mesmo tempo em que o corpo se mexe ao som do ritmo dos tambores, do agogô, do banjo... Isso é provocar uma situação de prática de letramento, nunca esquecendo a importância de ser letrado diante de uma sociedade racializada. O mesmo conceito de letramento pode ser usado para diferentes informações e/ou conteúdos.  Para reforçar esse papo de letramento, Freire (1991),  citado na obra  Alfabetização e Letramento Na Sala de Aula, de Maria Lúcia Castanheira,  

chama a nossa atenção para o fato de que não basta simplesmente dominar a escrita como um instrumento tecnológico. É preciso considerar as possíveis consequências políticas da inserção do aprendiz no mundo da escrita. Essa inserção favoreceria a uma leitura crítica das relações sociais e econômicas (re) produzidas em nossa sociedade. (CASTANHEIRA et al., 2009: 14 e 15)

Então, já deu pra se ligar aqui que  as questões raciais estão colocadas de forma social? E o que o processo Música & Letramento tem com isso? Bora desenrolar mais um pouco!

 

FUNK, LITERATURA E (DES)EDUCAÇÃO

É o seguinte: agora vamos seguir o papo o mais reto possível (se é que ainda não foi). Nosso desenrolo é sobre racismo. Mas, o que é racismo? Racismo é sistema de poder  que marginaliza o corpo negro e não deixa a sociedade reconhecer o negro como produtor de saber, racismo impede que a população negra tenha acesso a bens e serviços, racismo está na relação política e econômica da nossa sociedade. Na moral, se liga aê no papo do professor Big Richard(2018):

Racismo é institucional! Permeia o amplo espectro das instituições da sociedade, estrutura e condiciona que tipos de políticas públicas, onde, como, pra quem! Senão vejamos: por que nossas instituições policiais vêm seu povo como inimigo? Por que restrições sistemáticas de investimentos na educação e o terror em filas da previdência, em serviços de saúde, de habitação? Que dizer do formalismo e segmentação do mundo da cultura – erudita? Popular? Nada disso tem a ver com a questão racial? (SANTOS, 2018: XXIV)

 O racismo vai passando por toda a estrutura social e por suas instituições. Tudo sendo racializado. E se por um lado o racismo faz com que o negro seja desvalorizado na condição de humano, por outro coloca o ser branco como detentor de todo conhecimento. Logo podemos pensar que o racismo no Brasil é muito mais um problema da branquitude, dos sujeitos brancos e de que forma esses sujeitos agem do que um problema do negro.  Bem como explica a pesquisadora Maria Aparecida Bento:

O silêncio, a omissão, a distorção do lugar do branco na situação das desigualdades raciais no Brasil têm um forte componente narcísico, de autopreservação, porque vem acompanhado de um pesado investimento na colocação desse grupo como grupo de referência da condição humana. Quando precisam mostrar uma família, um jovem ou uma criança, todos os meios de comunicação social brasileiros usam quase que exclusivamente o modelo branco. (BENTO, 2002: 6).

O papo reto aqui é o branco vai ter um lugar de destaque na sociedade, chegar nas instituições. E quando eu falo de instituições falo de acesso para saúde, segurança, transporte, lazer, educação...  E é aí que vamos mais adiante no desenrolo. Porque pra trocar um papo sendo funk, literatura e educação não tem como não falar de forma racializada. Aliás, não tem como falar de nada sem pensar de forma racializda numa sociedade racista, tá ligad@?

 

FUNK

O funk, por exemplo, passa pelo mesmo processo de embranquecimento que o samba e outros ritmos passaram. Tá achando que é caô? Mas, antes de falar de embranquecimento e funk, bora falar do que é o funk?

O funk não é modismo, é uma necessidade

É pra calar os gemidos que existem nessa cidade

MC Bob Rum 1995

 

É som de preto, de favelado

Mas quando toca ninguém  fica parado

Mcs Amilca e Chocolate, anos 2000.

 

 

 

Pra quem não conhece o funk é com muito prazer
que eu me apresento agora pra você.
Sou a voz do morro, o grito da favela
sou a liberdade, em becos e vielas.
Deixa o meu funk entrar Funk-se quem quiser
ao som do funk eu vou seja o que Deus quiser.
Felicidade sim, eu quero é ser feliz
sem discriminação este é o meu País
Muitos me condenam, mas nada me assusta.
Eu sou brasileiro e não desisto nunca.
Sou da sua raça, sou da sua cor, sou o som da massa, sou o funk, eu sou!

 

E quem melhor pra dizer o que é o funk do que os MCs? Aí algumas definições. A primeira do MC Bob Rum, sucesso dos anos 1990 com Rap do Silva e outras canções. E logo depois  Amilca e Chocolate(com Som de Preto) e Mc Dolores gravado por MC Galo (com Funk-se quem quiser). Então se for pra dizer o que é o Funk(com F maiúsculo mesmo)  :

Não é modismo, é uma necessidade para calar os gemidos que existem nessa cidade. É som de preto e de favelado que quando toca ninguém fica parado. É a voz do morro, o grito da favela, é a liberdade em becos e vielas.

 Muitas são as definições de Funk que vamos encontrar nos textos, nas literaturas escritas por MCs. Ah tá! Vou explicar, rs! Se literatura é a  “habilidade de ler e escrever de forma correta” ou “compreende também histórias fictícias(inventadas)” e MCs estão lendo e escrevendo o mundo vivido/pensado/imaginado e escrevendo sobre, ta aí literatura.  E nessas literaturas Funk(sim! Poesias, literaturas) entre ficção e realidade (que trazem o conceito do gênero musical, histórias dos próprios autores, situações vividas ou imaginadas em bailes, humor, amores...) que teremos  além da definição, do conceito do que é o Funk, também vamos ficar ligados na história desse gênero musical como muito bem nos apresentou o poeta, compositor e cantor  MC Marcinho:

 

Há muito tempo atrás, surgiu um movimento

Que a cada dia que passava, pouco a pouco, ia crescendo

Um ritmo moderno, e muito maneiro

Surgia assim o nosso Funk, no meu Rio de Janeiro

     Oi, vários pancadões internacionais

Surgiram os MC's e vários festivais

E o DJ nos pratos, mandando um squah maneiro

E levando ao delírio os funkeiros

 

Pois até hoje o nosso Funk tá por cima

Ai, que saudade que eu tenho do meu Funk da antiga

Se tu não curtiu os DJ's do vinil, então perdeu o melhor Funk do Brasil (2x)

 

Mas o tempo passou,

Tanta coisa mudou,

Várias relíquias que existiam, hoje se acabou

Acabou o festival, acabou a matinê

Até o meu vinil, hoje virou CD

Mas o meu Funk continua abalando

E cada dia que passa, vai se modernizando

A massa da antiga e a nova geração

Humildemente, vem cantando esse refrão

 

Pois até hoje o nosso Funk tá por cima

Ai, que saudade que eu tenho do meu Funk da antiga

Se tu não curtiu os DJ's do vinil, então perdeu o melhor Funk do Brasil

 

Já bem explanado por MCs o conceito e a história, agora bora falar do bagulho do branqueamento e a quem essa parada interessa.  No livro “1976 Movimento Black”, de Luiz Felipe de Lima Peixoto e Zé Octávio Sebadelhe (2016)  entre outros trechos, os autores destacam no início da obra como o soul foi recebido na cidade do Rio de Janeiro:

 Nas décadas de 1940 e 1950, quando o rádio passou a divulgar o samba ao grande público, quando as escolas de samba deixaram de ser vasculhadas pela Polícia, foi quando a classe média invadiu o samba. Com efeito, o negro de então já não se identificava mais com aquele universo, e encontrou no soul que vinha dos Estados Unidos a sua coluna, o seu apoio, o porto seguro, de real cumplicidade. (PEIXOTO, SEBADELHE, 2016: 12 )

“Qual foi maluco?”

Qual foi que  esses caras estão dizendo aí  sobre o branqueamento do samba e o surgir do funk no Rio de Janeiro. Abraçaram o samba como o ritmo nacional. Cada vez mais transformando o samba em produto. Mas, se liga na “coincidência” entre compositores de samba e de funk. O sambista Zé Keti escreveu “eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo sim senhor, quero mostrar ao mundo que tenho valor” na letra da canção A Voz do Morro. O autor era integrante de um grupo de samba de mesmo nome nos anos 1960. Mais de 30 anos depois, MC Dolores  descreve, conceitua o funk assim: “sou a voz do morro, o grito da favela, sou a liberdade em becos e vielas” na letra Funk-se quem quiser. Zé Keti, com essa canção, estava definindo o samba, reafirmando sua origem.  A voz do morro nas duas canções marca a origem entre os dois gêneros na cidade do Rio de Janeiro. O morro, a favela, a periferia, o povo preto. Pois, assim disseram Amilca e chocolate : “é som de preto, de favelado...”.

Pra chegar nos finalmente da ideia, embranquecer tá colocado como processo de apropriação cultural das nossas(pretinhos e pretinhas) paradas. Apropriação cultural, no papo reto é os pretin gastar tempo e intelecto pra produzir as paradas e as empresas, empresários, empresárias, tod@s branc@s ficam com a maior parte da grana. Ou simplesmente usam os ritmos como samba, funk, rap e fazem sucesso com as paradas sem ter nenhum compromisso com as origens dos nossos caô. Tipo o samba que é uma música de origem preta, referencias africanas, com bases musicais nos tambores do candomblé, tem passistas, músicos e outros artistas pretos, netos e bisnetos dos mais velhos, antigos fundadores das escolas de samba. Mas, os dirigentes, presidentes das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro são brancos em quase sua totalidade. Você que me lê pode pensar “Ah, esse maluco ta viajando!” Blz! Eu até entendo que o mundo te faz pensar assim. Só pra ter ideia, tem gente que diz que racismo nem existe mesmo com todas as evidências e com o racismo matando toda hora. Então se liga aí. Não é coisa da minha cabeça, música, letramento, literatura através da educação são feitas para nos embranquecer, colocando pra gente a ideia de que o que é europeu, o que é do branco é que é legal, é o correto, é a forma certa de andar, falar, vestir. O Funk, (quando eu digo Funk eu digo toda a linguagem, história, complexidades...) assim como o samba já foi, é considerado cultura de marginal. O rap tem a mesma pegada. Basta ouvir um pouco de Racionais MCs pra perceber qual é. Só que tudo quando a consciência negra assume o mínimo de protagonismo, expõe as questões raciais...

Pq entre outras paradas a  "maior meta é deixar minha família bem"(MC Poze do Rodo). Mas, ver os preinhos, os favelados voar alto é tenso pra quem quer manter dominação, tá lgd?! O papo do MC Urubuzinho em Vida de Herói é retão também(procura lá no you tube). Aí é a hora de embranquecer. E branquitude é quando uma elite branca(elite branca é redundância, pleonasmo rs) afirma por meio da estrutura, instituições sociais  que “Quanto mais próximo do padrão estético branco, mais possibilidades de ascenção social e ultrapassagem das barreiras raciais.”(SANTOS, 2018: 44) para um negro, se ligô?! Chegou a hora de falar de educação então. 

Educação

O que é educação e o que ela tem com essa parada? Educação é o processo pelo qual o ser humano aprende. Pode ser na escola ou fora dela. Mas, pra não dizer que to inventando coisa,

(...) a educação é um dos meios de que os homens lançam mão para criar guerreiros ou burocratas. Ela ajuda a pensar os tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, fazendo passar de uns para os outros o saber que os constitui e legitima. Mais ainda, a educação participa do processo de produção de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades (BRANDÃO, 2013: 11 e 12).

Se educação é o processo de formação dos sujeitos, pra formar guerreiros ou burocratas, existe uma intenção. Então, se liga, qual é a história que é contada na escola? A história de invasão do Brasil ou de descobrimento, por exemplo? A história de violência sexual sofrida por negras e indígenas praticada pelos europeus que dava origem a miscigenação ou relações romantizadas nas literaturas  infantis e para adultos? O que diziam/dizem pra gente sobre a gente, povo preto ou sobre o povos indígenas desde as primeiras aulas na Educação Infantil até a faculdade(pra quem chega)?

Educação é tudo! Mas, a educação que a gente recebe desde a creche até a universidade tem bonecos pretos?  desenhos e filmes com personagens negros? história da formação do país nas perspectivas dos povos pretos e indígenas  na maioria das paradas? Que tipo de sociedade essa educação construiu/constrói?  Educação pra que? Educação pra quem?

Não é por acaso que o samba atualmente é bem aceito nos ambientes educacionais em festas e até para discussão em sala de aula. Pois, é um produto nacional,  embranquecido por uma elite nacional  que buscava um representante da “cultura popular” no mundo, assumir a ideia da democracia racial, negar a existência de racismo no Brasil aos olhos do mundo. Mas,  o funk, só de falar, a galera torce a cara. Sempre tem MC, DJ preso, perseguido... Tudo pela educação?  Como se explica? “A educação dos negros, a coisa mais importante na elevação dos Negros, está quase inteiramente nas mãos dos que escravizaram e agora os segregam”(WOODSON, 2018: 40). Então, a gente chega num desenrolo que o pedagogo estadunidense Woodson(2018: 25) chama de deseducação. Pois, para ele

O pensamento de inferioridade é injetado no Negro em quase todas as classes que ele entra e em quase todos os livros que ele estuda. Se ele abandonar essa escola logo após dominar os fundamentos básicos, antes mesmo de terminar o ensino médio ou chegar a faculdade, ele naturalmente escapará de algum desses preconceitos e poderá se recuperar a tempo de servir seu povo.

Abraça o papo aí!  É Educação pra deseducar os pretinhos e pretinhas, tá ligado? Mas, e a educação para os negros, já que a educação aí exposta é alienante, deseducadora? Aí o bagulho é o seguinte:  Pra começo de conversa nossas paradas(nossa história, nossa cultura) não só pode como deve  “perturbar os currículos das escolas ou forçar o Negro, como tal, a discutir publicamente”(WOODSON, 2018:126). Mas, na boa, dá pra ir além. Precisamos! Vamos ficar esperando uma lei que mude o currículo? Não! Pois já tem a lei 10.639/03 que foi resultado de muitos anos de luta do Movimento Negro. Se é continuidade, se as mais velhas e os mais velhos já fizeram muito, os prentinhos e pretinhas que estão chegando precisam continuar remando. Não precisamos inventar a roda, mas ler, rever xs nossxs! O mesmo conceito de letramento(sem fragmentações) que diz que precisamos ter a compreensão do que se lê, se vê e se ouve nos conteúdos de embranquecer, dá conta se o conteúdo for sobre a história, a cultura, a luta e a continuidade preta em terras brasileiras, por exemplo. A música preta, a literatura preta, a história preta vai fazer a gente chegar na educação preta. E o funk é uma das armas. Digo é porque o  Escola de Funk é um projeto já praticado no qual a molecada discutiu/discute a historia/memória do funk, as canções, o processo de criação, o preconceito, o embranquecimento... Pra chegar no entendimento do jogo, vê legal o caô! 

Mas, Carlos, funk vai dar conta das disciplinas? Alguns vão dizer ainda: Funk só fala palavrão. Rsrsrs Eles não conhecem funk. Funk fala palavrão também! Não conhecem Elis MC, Mano Teko, Pingo do Rap, Tikão, Junior e Leonardo, Cabelinho, Urubuzinho, Poze do Rodo, MC Mazinho, Menor do Chapa, MC Urubuzinho, MC Skel ... Essa lista não acaba. E de acordo com a idade e a disciplina vai ter várias letras, vários textos pra desenrolar. No papo reto, o Funk é Funk, o funk é aula. É Escola de Funk.  Máximo respeito para todos os mais velhos e as mais velhas do funk, do samba, do rap, do soul, da cultura preta de uma forma geral, que trilharam esse árduo caminho e nos deixaram a responsa da continuidade! Vale aqui o reforço da ideia de que não dá pra ser mais um projeto pedagógico romantizado. Mas, é uma parada de ir contra a alienação, papo retão, pouco falar, muito fazer! Organização no sapatin. Já até to terminando pra não falar tanto. É Sentir quem você pode contar e quem não pode pra fazer o bagulho andar. Não é fazer pra eles. É fazer junto. O #escoladefunk nasce assim. Geral juntão, mesma vibração! 

To fechando por aqui, mas antes de colocar a segunda referência, preciso dizer, deixar bem evidente que esse desenrolo só é possível por conta da primeira referência. São elxs, os MCs, DJs(tanto os da antiga quanto os de agora) e os demais trabalhadores do funk. Todos que contribuíram e continuam contribuindo para o pancadão rolar. É não é pequena contribuição não! Tô falando de quem fez e faz o bagulho no dia a dia. Pra falar de alguns(mas) que inspiraram muito esse papo: Mano Teko, Elis MCs, MC Carol de Niteroi, MC Carol Felix, Passinho Carioca, MC Lipinho Costa, MC Patrão, Casa do Funk, MCs Junior e Leonardo, MCs Cidinho e Doca, MC Mazinho, MC Tikão, MC Menor do Chapa, MC Marcinho, MC Bob Rum, MC TH, MC Andrezinho Shock, MC Pingo do Rap, MC Lasca, Mr. Catra, MC Sapão, MC Urubuzinho e os/as  demais. Uns/umas tenho mais proximidade, outros/outras nem tanto. Mas, muito importante é  colocar o quanto cada pessoa que faz funk é parte dessa engrenagem sinistra de continuidade e resistência. E o fazer dessa galera é ciência. Um alôzão aqui pra galera da Casa do Funk, São Gonçalo e Passinho Carioca na Penha. 

Eu sou Carlos Carvalho, funkeiro, sambista, músico instrumentista, pedagogo, professor, criador do processo/projeto Música & Letramento.

 

Primeira Lista de Referências: 

Mano Teko - Quilombo, Favela, Rua

https://www.youtube.com/watch?v=eZuBzrfaaYk

MC Poze do Rodo - To voando alto

https://www.youtube.com/watch?v=A_EWrzI2CUg

MC Urubuzinho - Vida de Herói 

https://www.youtube.com/watch?v=YT0ZL3mcn8M

MC Mazinho  e Menor do Chapa 

https://www.youtube.com/watch?v=bHqbnjsyvGo

MC Carol de Niteroi -  Não foi Cabral 

https://www.youtube.com/watch?v=m-4OLiJguLo

Elis MC - Vem dançar com Elis 

https://www.youtube.com/watch?v=4h4vXtBesi8

MC Tikão - Família 

https://www.youtube.com/watch?v=vCQkb4ZmlTE

MC Orelha e MC Menor do Chapa 

https://www.youtube.com/watch?v=rldZZTUao0o

MC Cidinho e Doca - Rap da Felicidade

https://www.youtube.com/watch?v=7pD8k2zaLqk

MC Marcinho - funk da antiga

https://www.youtube.com/watch?v=rqbuNSFL7kE

MC Bob Rum - orgulho da favela

https://www.youtube.com/watch?v=jvf0as1SdWI

MC Galo - Funk-se quem quiser 

https://www.youtube.com/watch?v=JUDEgzOM7LE

MC pingo do rap 

https://www.youtube.com/watch?v=AeLTfVWXvGk

MC Federado e os Lelekes - passinho do volante

https://www.youtube.com/watch?v=Y3ums3ad2SM

MC Vitão - O gás 

https://www.youtube.com/watch?v=vowlsR3TpfI

MC Andrezinho Shock - Roda Gigante

https://www.youtube.com/watch?v=D5FZs3OJzR0


Segue a segunda parte aí das referências  :

1.             BENTO, Maria Aparecida Silva; CARONE, Iray. (org). Branqueamento e branquitude no brasil in: psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no brasil . Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

 

2.             BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo. Brasiliense. 2013.

 

3.             BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo. Petrópolis. 2003

4.             CASTANHEIRA, Maria Lúcia; MACIEL, Francisca Isabel Pereira; MARTINS, Raquel Márcia Fontes. Alfabetização e Letramento na Sala de Aula. 2 ed. Belo Horizonte Autêntica Editora – 2009.

 

5.             CAVALLEIRO, Eliane(org). Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo. Selo Negro. 2001.

 

6.             LEVY, Gabriel. O livro de brincadeiras musicais da Palavra Cantada, volume 3. São Paulo. Editora Melhoramentos. 2010.

 

7.             PEIXOTO, Luiz Felipe de Lima; SEBADELHE, Zé Octávio. 1976 Movimento black rio. 1ed. Rio de Janeiro. José Olympio. 2016.

 

8.             SANTOS, Richard. Branquitude e televisão: A nova África (?) na TV pública. Gramma. Rio de Janeiro. 2018.

 

9.             SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis, RJ. Vozes. 2017.

 

10.         SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. 2ed. Rio de Janeiro. Mauad. 1998.

 

11.         WOODSON, Carter Godwin. A deseducação do negro. São Paulo. Medu Neter Livros. 2018.